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Aqui cresceu o cangaço... Aqui começou mais uma história.


Na terra natal de Lampião, Serra Talhada - PE, aonde entrevistamos diversas figuras locais, ficamos surpresos com a Casa de Cultura da cidade, do artista Juraci Jussé, com muitas informações, objetos e fotos do cangaço.

Este poema, de autoria atribuída a Lampião, demonstra um pouco da história desse cabra e seu bando, na dura vida do sertão nordestino.

Assim, este diário pernambucano é inteiramente dedicado a todos que lutaram e acreditaram na justiça pelas próprias mãos, nas palavras de Virgolino Ferreira, vulgo Comandante Lampião:

Me juntei a Sebastião Pereira
Companheiro de desgraça
Quis queimar o Pajeu
Pra ver subindo a fumaça
Conheci que era valente
Pois Lampião não desmente
O brio de sua raça

Eu me chamo Virgolino
Por alcunha Lampião
Sou cangaceiro afamado
Em todo alto sertão
Não levo em conta inimigo
E não encaro perigo
Estando de arma na mão

A chupeta que carrego
É o rifle e a cartucheira
O leite é bala de chumbo
Muito veloz e certeira
Quem se julga pedra rocha
Venha ver se aguenta a brocha
De Virgolino Ferreira.

Nesse Pajeu de flores
Fiz meu centro de ação
Sou senhor absoluto
De todo esse sertão
Aqui quem quiser passar
Precisa de apresentar
Licença de Lampião


Quando pensei que podia
O caso estava sem jeito
Vou dar trabalho ao governo
Enfrentar de peito a peito
Vou trocar bala sem receio
Morrendo num tiroteio
Sei que morro satisfeito

Meu mano Antonio Ferreira
Cai na luta sem receio
Livino por sua vez
Não teme combate feio
Gosta de fazer zuada
Mas assusta a macacada
Quando cai no tiroteio.

Eu, Antônio e Livino
Andamos pelo sertão
Soldados que nos enfrentar
Dá frio ao coração
Porque já sabe que corre
E se for teimoso morre
Vai morar dentro do chão.

Por minha infelicidade
Entrei nessa triste vida
Não gosto nem de contar
A minha história sentida
A desgraça enche meu rosto
Em minha alma entra o desgosto
Meu peito é uma ferida.

Quando me lembro senhores
Do meu tempo de inocente
Que brincava nos serrados
Do meu sertão sorridente
Sinto que o meu coração
Magoado desta paixão
Bate e chora amargamente.

Meu pai, minha mãe querida
Quiseram me ensinar
No seu colo carinhoso
Ela me ensinou a rezar
E a todos respeitar
Ele me ensinou nos campos
Eu menino a trabalhar.

Cresci na casa paterna
Quis ser um homem de bem
Viver do meu trabalho
Sem ser pesado a ninguém
Fui almocreve na estrada
Fui até bom camarada
E tive amigos também.


Tive também meus amores
Cultivei minha paixão
Amei uma flor mimosa
Filha lá do meu sertão
Sonhei em gozar a vida
Bem junto à prenda querida
A quem dei meu coração.

Hoje sei que sou bandido
Como todo mundo diz
Porém já fui venturoso
Passei meu tempo feliz
Quando no colo materno
Gozei do carinho terno
De quem tanto bem eu quis

Meu rifle atira cantando
Em compasso assustador
Faz gosto brigar comigo
Porque sou bom cantador
Quando meu rifle trabalha
Minha voz longe se espalha
Zombando do próprio horror.

Nunca pensei que na vida
Fosse preciso brigar
Apesar de ter intrigas
Gostava de trabalhar
Mas hoje sou cangaceiro
E enfrentarei o bauceiro
Até alguém me matar!


Fonte do texto e fotografias presentes nesse diário: Anildomár Willians de Souza